Quando eu li no blog dele o post do Deco Ribeiro, fundador do E-Jovem: http://decoribeiro.blogspot.com/2010/05/veja-mente.html sobre a matéria de capa da VEJA da primeira semana do mês de maio (tema: ''Ser Jovem e Gay - A Vida Sem Dramas'') já vi que não vinha coisa boa pela frente. No post, ele falava sobre como a reportagem da VEJA fez parecer que não existe problema algum na vida do jovem gay...nada de homofobia na escola, nada de tensão na família, um verdadeiro mar de rosas onde ninguém sofre por ser minoria. Ou seja..bem diferente da realidade que a gente sabe que existe. Comprei a revista pra poder criticar e, a princípio, achei que a coisa não era tão ruim assim. O editorial é a respeito da matéria e faz questão de dizer que ''A reportagem mostra que se revelar homossexual para os pais ainda é algo tenso, complexo e sofrido para um jovem.'' O primeiro parágrafo da matéria discorre sobre a dificuldade de assumir a homossexualidade para os pais, e ressalta que, embora a geração atual seja mais tolerante, a orientação sexual ainda vai ser uma questão geradora de tensão por um bom tempo. ''Ok'', pensei, ''não erraram tão feio. A matéria está mostrando que a homofobia diminuiu, o que é verdade. Não esconde que existem dificuldades, só quis enfatizar que é bem mais fácil ser gay hoje do que antigamente. No saldo final, resultado positivo.'' ´Triste engano da minha parte. Quanto mais eu lia, mais tinha a impressão de que os repórteres não conseguiram interpretar a própria pesquisa. Comecei a escrever um post sobre o assunto, mas era tanta coisa pra dizer que eu sempre o salvava pra editar depois, e acabei abandonando o assunto depois que o mês de maio acabou, por achar que não era mais relevante. Mas ele é sim, pois mostra o quanto a mídia manipula informação, principalmente em ano de eleição...e isso é algo para o qual todos nós devemos ficar atentos. Por quê? Eu explico. Me acompanhem, que a viagem vai ser longa e desagradável.
Comecemos pela frase que encerra a primeira página: O peso de sair do armário já não existe para os jovens gays do Ocidente: tornou-se natural. Quem afirma é o psicólogo americano Ritch Savin-Williams, autor do livro The New Gay Teenager (O Novo Adolescente Gay). Repitam comigo: Hein?! Diz a VEJA que ele está à frente do ''maior levantamento já feito'' a respeito do processo de assumir a homossexualidade. Queria saber onde foi que ele fez esse levantamento. No mundo em que eu convivo é que não foi. Qualquer um que lida com juventude LGBT sabe que sair do armário é um processo tenso pra todo mundo, demorado para muitos, e praticamente impossível para alguns. Então, sinto muito, Sr. Ritch Savin-Williams, mas seu ''maior levantamento já feito'' precisa de algumas retificações.
A frase imediatamente seguinte também é de doer: Os jovens que aparecem nas páginas desta reportagem, que em nenhum instante cogitaram esconder o nome ou o rosto, são o retrato de uma geração para a qual não faz mais sentido enfurnar-se em boates GLS (sigla para gays, lésbicas e simpatizantes) - muito menos juntar-se a organizações de defesa de uma causa que, na realidade, não veem mais como sua. Ai, meu saquinho inexistente! É tanta coisa errada nessa frase que vamos ter que ir por partes, que nem o Jack. Em primeiro lugar: será que sequer passou pela cabeça dos repórteres que, se esses jovens não cogitaram esconder o nome ou o rosto, existem muitos outros por aí que vão ter vergonha até de comprar a revista na banca? Em segundo lugar, da última vez que eu chequei, as baladas GLS iam bem, obrigado, por alguns motivos. Um deles é que o fato de existir baladas diferentes pra hetero e pra gay não é, por si mesmo, sinal de preconceito. É o mesmo princípio de existir baladas diferentes pra adolescentes e pra gente na faixa dos 30. A avançada Zurique, na Suíça, um lugar com menos habitantes que Santos, tem 05 points GLS (isso aí, CINCO!), e não é por falta de tolerância com a população LGBT. Na balada GLS, tem-se a certeza de que o bonitão da mesa ao lado também gosta da fruta. O que, num país homofóbico como o Brasil, conserva os dentes: evita o soco na cara que algumas vezes se segue á cantada em um cara hetero ou, pior, gay mal-resolvido. Também evita as piadinhas, xingamentos, e risco de agressão física que muitas vezes acompanham a demonstração de carinho entre duas pessoas do mesmo sexo. Não me lembro se foi a JUNIOR ou a DOM que recentemente fez uma matéria em que casais gays iam a points hetero ver qual era a recepção a dois homens demonstrando afeto em público. Em um lugar, o clima era tão pesado que o repórter e seu acompanhante resolveram ficar perto dos seguranças da casa, caso o pior acontecesse. Ato contínuo, os seguranças se afastam dos dois! Pois é...tivesse algum ''macho'' cheio de testosterona mal direcionada agredido fisicamente os dois, talvez eles estivessem por conta própria. Isso aconteceu no mesmo lugar em que o garçom propositadamente derrubou cerveja no casal, e em que os olhares, chacotas e ''esbarrões'' foram tantos que eles acharam melhor abandonar o lugar por medo de apanhar. Balada GLS, no Brasil, é questão de necessidade...serve pra proteger a integridade física.
Em terceiro lugar, e mais importante: chegamos no ponto principal da reportagem. Em vários momentos, a VEJA faz questão de dizer que o jovem gay não se interessa pela militância. Por um lado, isso é sim verdade. E aí eu pergunto: quantos jovens brasileiros se interessam por militância, independente da orientação sexual? Aliás...quantos brasileiros se interessam por militância, independente de idade? A maioria dos jovens prefere paquerar, ir à balada, ou à praia, do que participar mais ativamente na luta por seus direitos. E nem dá pra culpá-los: uma cultura de corrupção e de descaso das autoridades públicas deixou o brasileiro com a idéia de que não adianta lutar, nada vai mudar, muito menos quando a questão tem a ver com política. Mas tem outro lado que a VEJA não viu: é difícil lutar contra a homofobia quando a homofobia nos deixa com medo. Qual jovem vai participar de uma ONG em defesa da diversidade sexual quando tem medo que os pais descubram sua homossexualidade? Qual jovem vai participar de uma passeata exigindo respeito aos gays e lésbicas se tem pavor de que algum conhecido a veja, e questione sua orientação sexual? E será que o jovem realmente não vê ''a causa'' como sua? Eu acho que reunir mais de 50 jovens todo mes no Encontro Estadual do E-Jovem, alguns dos quais estão na rodoviária 06 e pouco da matina pra encarar mais de 03 horas de busão pra estar lá, seria mais difícil se todo jovem gay e lésbica estivesse realmente pouco ligando pra transformar a realidade á sua volta. Por mais que os encontros sejam divertidos, e que volta e meia de um encontro surja uma ficada ou até mesmo um namoro, eles envolvem conversas sérias sobre homofobia na escola, aceitação da família, políticas públicas, enfim...penso que, se aqueles jovens não estivessem nem aí pra tentar encontrar soluções que tornem a vida deles e a de jovens como eles um pouco menos afetada pela homofobia, eles achariam outra forma de passar seu domingo. .E, quando se fala de militância que nao envolve necessariamente se filiar a uma ONG, ou participar de atos públicos como passeatas, dá pra ver que os jovens vêem sim a luta contra a homofobia como uma causa sua. A internet foi fundamental em dar voz a quem antes não era ouvido, e muitos jovens aproveitaram o espaço para fazer seus vídeos contra a homofobia e publicá-los no Youtube...e outros aproveitaram para divulgar tais vídeos em seus blogs e orkuts. Outros preferem usar blogs, orkut e twitters para falar do cotidiano LGBT. E quem disse que aí não existe militância? Quem disse que, quando um jovem faz questão de publicar em seu Orkut sua foto na Parada do Orgulho LGBT, ele não o faz pq quer demonstrar que, apesar do preconceito, tem orgulho de ser quem é? Já tive a oportunidade de ver diversos tópicos em que jovens gays pedem conselho, seja no Orkut, seja no E-Kut, a rede social do E-Jovem: www.e-jovem.ning.com Costumam ser tópicos recheados de respostas. Por que?
O que mais me incomoda nisso tudo é que a equipe de reportagem entrou em contato com o E-Jovem. O Deco fez questão de dizer que a realidade bonitinha retratada no tal livro The New Gay Teenager não era exata, era diferente do cotidiano. Foi ignorado. Uma das repórteres iniciou uma enquete no E-Kut, a rede social do E-Jovem: http://e-jovem.ning.com/forum/topics/quando-vc-se-assumiu buscando justamente material para a reportagem. Nele, ela pergunta com que idade @ jovem se assumiu para a família, para algum amigo, e para a sociedade em geral. Basta ler a primeira e a segunda paginas para ver que a maioria de quem responde ainda não se assumiu, ou se assumiu pra apenas uma ou duas pessoas. Alguns fizeram questão de dar seus motivos, o medo da reação da família, da intolerância religiosa, etc. Pelo resultado final da matéria, dá pra ver que foram ignorados. A parte mais triste é que um dos meninos participantes chega a perguntar à repórter se ela não gostaria de incluir na reportagem o contraponto, mostrar justamente o lado de quem tem medo de sair do armário, se ofereceu pra contar a ela a história dele. Ignorado, claro.
domingo, 11 de julho de 2010
O que você quer dizer para o seu pai nesse Dia dos Pais?
E dia 08 de agosto é Dia dos Pais. E o E-Litoral quer saber: o que você quer dizer para o seu pai? Mande um e-mail, poste um comentário, faça um vídeo, com aquilo que vc diria para o seu pai se pudesse (ou vai dizer de verdade, através do nosso site). A intenção é recolher mensagens através do site e de visitas pessoais a locais de convivência da juventude LGBT, para a edição de um vídeo de mensagens de jovens gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais para seus pais. Dê sua contribuição!
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Quem quer jogar vôlei contra a homofobia?
Quem aí tá dentro? Os times são de 07 pessoas, e podem ser mistos (homens e mulheres no mesmo time), e podem se inscrever pessoas dos 14 aos 29 anos. Já temos 03 interessados, agora só faltam 04. O torneio rola em Piracicaba, em 27/07/10, um domingo. Estamos tentando, junto ás Secretarias de Esporte da região, transporte para o evento. Caso não seja possível, organizaremos um torneio nosso por aqui mesmo. Inscrições até dia 09/07 nos e-mails grupoelitoral@gmail.com, jefreylidel@hotmail.com (Natasha), ou rodrigo_elitoral@hotmail.com. Coloquem no título Inscrição, pra facilitar a nossa vida. Vambora, moços e moças atlétic@s?
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