quinta-feira, 10 de junho de 2010

Porque a Parada deste ano foi uma vitória histórica

Dos 03 milhões de participantes da 14ª edição da Parada do Orgulho LGBT, que ocupou a Avenida Paulista no último domingo, dia 06 de junho de 2010, muitos podem não ter se dado conta, mas participavam de um momento histórico. O motivo já é perceptível na frase anterior. A Parada ocupou a Avenida Paulista. Não entendeu? Eu explico.

Em 2009, a 13ª edição da Parada foi marcada por tristes atos de violência homofóbica. Um deles foi a morte de Marcelo Campos, gravemente espancado em plena luz do dia por um grupo de covardes assassinos. O outro veio em forma de uma bomba caseira atirada da janela de um apartamento, que feriu mais de dez pessoas com seus estilhaços. O ato foi a definição de terrorismo: o uso do medo como instrumento político ou ideológico. Os planejadores? Um grupo de doze pessoas, dois adolescentes e dez adultos (estes últimos todos já com prisão decretada) A intenção? Assustar os futuros participantes da Parada, para que tivessem medo de ocupar as ruas. Foi um ato de intimidação calculada, que pretendia atingir muito mais do que aqueles que eventualmente fossem feridos. Quis instilar o temor em todos os que pensassem em estar naquele espaço no ano seguinte, ousando exigir respeito por sua afetividade, sua sexualidade, sua identidade de gênero. Quis expulsar a Parada da Paulista.

Quase conseguiu. Rapidamente, políticos, personalidades, cidadãos comuns, alguns bem-intencionados, outros aproveitando a oportunidade para manifestar uma homofobia mal velada, começaram o coro para que a manifestação abandonasse a Avenida Paulista em favor de outras vias. O motivo? A Parada havia se tornado ''muito perigosa''. E, em lugar de tomar medidas para aumentar a segurança do evento, qual era a saída? Colocar a população LGBT em algum lugar onde fosse menos visível, onde o percurso fosse mais restrito, onde houvesse uma concentração menor de pessoas. Chegou-se a falar em transferir a passeata para o Sambódromo, sem entender que o principal objetivo de qualquer Parada LGBT é percorrer as ruas da cidade, mostrando para a população que lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, drag queens, fazem parte da população de sua cidade e de seu país...é mostrar que essas pessoas têm orgulho do que são, e não tem medo de ocupar as ruas demonstrando esse orgulho...é dar a tod@s aquel@s que ainda se escondem em armários uma chance de ver outr@s travestis, homo, bi e transexuais, que assumem sua identidade, e são felizes dessa forma...é dar a tod@s nós que muitas vezes nos sentimos excluíd@s em nossa própria cidade, em nosso próprio país, em nossas próprias ruas, uma chance de, ao menos por um dia, demonstrar carinho e afetividade sem medo de represálias, dar a tod@s os transgenêros a chance de, ao menos por um dia, desfilarem seus corpos modificados, suas roupas femininas, sua maquiagem impecável sem medo de agressões.

Tirar a Parada da Paulista passaria uma mensagem perigosíssima: a de que a violência funciona...a de que a agressão, a intimidação, a ameaça, são armas eficazes contra a diversidade...a de que bombas são capazes de calar aqueles que lutam simplesmente pelo direito de serem respeitados pelo que são.

Mas 2010 chegou, e com ele, uma ocupação da Paulista que, como em todos os anos com exceção do fatídico 2009, trouxe menos ocorrências policiais do que a média ocorrida em qualquer grande partida de futebol. 2010 chegou, e com ele, o compromisso do Estado e, principalmente, do movimento LGBT, de não se render a terroristas. 2010 chegou, e com ele, mais de 03 milhões de pessoas para, reunidas, mandar a mensagem de que não há bomba que cale a nossa voz.




E-Litoral na Parada LGBT de São Paulo



E o E-Litoral esteve presente neste domingo, 06 de junho, à 14ª edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a maior do mundo, que ocupou a Paulista em um protesto festivo que durou cerca de 06 horas, e atraiu mais de 03 milhões de pessoas. Esse ano, o colorido dos carros dividiu espaço com o preto-e-branco. O motivo era chamar a atenção dos participantes para a luta contra o preconceito, principalmente em ano eleitoral. Com o tema ''Vote Contra a Homofobia. Defenda a Cidadania'', o evento foi um chamado para que a população LGBT mostre sua cidadania nas urnas nesse mês de outubro, elegendo políticos comprometidos com a defesa da diversidade sexual e o combate á discriminação e ao preconceito.